IA na educação: o que dizem os professores

IA na educação: o que dizem os professores

Inteligência artificial já é realidade em salas de aula, e docentes relatam suas primeiras impressões

Uma nova fronteira tecnológica vem marcando pesado o processo de aprendizagem, e colocando docentes e alunos a prova. A inteligência artificial é uma nova ferramenta que não se pode mais ignorar, e enquanto inicialmente professores verificaram o uso indevido de ferramentas como Chat GPT por alunos, hoje o uso da IA na Educação é um assunto bem mais amplo.

As ferramentas da IA na Educação são variadas, e quando bem utilizadas podem beneficiar o aprendizado de inúmeras maneiras. Para além da ideia de que a inteligência artificial é inimiga, as novas tecnologias podem ser aliadas em salas de aula. E quem é muito resistente às inovações pode ficar para trás, algo muito prejudicial tanto no mundo acadêmico quanto no profissional.

É pensando nesse novo horizonte de possibilidades e riscos que especialistas em Educação convidam docentes de todos os níveis a se ambientarem melhor com a IA. No Brasil, o MEC já tem iniciativas para incluir a inteligência artificial na Base Nacional Curricular Comum (BNCC), e em 2024 lançou o Plano Brasileiro de Inteligência Artificial (PBIA), já de olho em metas para a inclusão das novas tecnologias.

Nacionalmente, o Piauí foi o primeiro estado a sair na frente, introduzindo a disciplina de Inteligência Artificial a partir do último ano do ensino fundamental e nos 3 anos do ensino médio. A iniciativa já é realidade em todas as escolas do estado desde o início de 2024, sendo o Piauí reconhecido pela Unesco como a primeira legislação do continente americano a incluir a IA como disciplina obrigatória e universal.

Especialistas indicam que a presença da IA na Educação pode atrair uma série de facilitadores na gestão das instituições de ensino, auxiliar na diminuição da evasão escolar e introduzir novas variantes e possibilidades à aprendizagem e qualificação profissional. No entanto, nada disso é possível de forma igualitária aos estudantes brasileiros se houver barreiras geográficas e financeiras à conectividade.

Para entender um pouco mais sobre essa nova perspectiva, conversamos com docentes do Ecossistema para compreender suas percepções sobre a correta introdução da IA na Educação, seus riscos e possibilidades.

O que queremos com a IA?

O pedagogo e docente da UniBRAS Digital, Rafael Moreira, defende que antes de apontar se a inteligência artificial é boa ou ruim para a área educacional, é preciso antes conhecê-la e entender seus mecanismos. Para ele, não compete necessariamente ao docente indicar como positiva ou negativa a efetividade da IA, mas sim se aprofundar na temática e compreender as possibilidades pedagógicas.

“Tem que se fazer uma vivência real no tema, uma imersão, para que o aluno entenda o que é aquela tecnologia. O professor não pode pensar que a inteligência artificial vai salvar o mundo. Nós precisamos saber sobre a intencionalidade, como funciona um aplicativo confiável e o que a IA pode demandar”, explica.

O especialista frisa que não se pode acreditar que a IA na Educação vai resolver os problemas que não foram resolvidos pelos “humanos”, mesmo porque, segundo ele, não se pode acreditar que a inteligência artificial está “pensando mais que nós”. É necessário refletir sobre as estratégias e os objetivos que se querem alcançar como um todo.

“Na verdade, a tecnologia está sendo programada para resolver coisas que nós estamos demandando. E a partir daí, nós precisamos ter essa relação muito proximal entre teoria, prática e a tecnologia. Hoje há quem entenda mais e outros menos sobre a IA, e isso estimula a criação de verdades e mitos sobre o tema”.

Ferramenta incomparável

Criar planos de aprendizagem personalizados, sugerir cronogramas, resumir tópicos complexos e até recomendar rotas de estudo a partir das dificuldades identificas pelo aluno. Essas são algumas das funcionalidades possíveis com o uso da IA na Educação, de acordo com o docente do Centro Universitário UniFACTHUS, Roberto Duarte. Mas eles explicam que o uso dessas plataformas merece também cautela.

“Como organizadora de estudos, a IA é incomparável. Também é uma excelente fonte de primeiras referências em pesquisa sobre temas desconhecidos, com apresentação de conceitos-chave e direcionamento para investigação em fontes especializadas. Mas não é uma fonte definitiva de conhecimento, já que retira suas informações da internet, ecossistema em que o verificável e o falso coexistem”.

O docente explica que as chamadas “alucinações”- situações em que informações falsas soam fortemente convincentes – são um risco real. Ele aponta, no entanto, que o maior risco percebido no uso incorreto da IA está em utilizar essas ferramentas para a resolução de exercícios e tarefas.

“A facilidade imediata é tentadora, mas o resultado é nefasto, porque o verdadeiro valor desses exercícios não está na resposta final, mas sim no processo mental para chegar até ela”, defende. Para Roberto, é justamente nesse processo de resolver exercícios tidos como “difíceis”, de tentativa e erro, que acontecem as conexões neurais para se desenvolver o profundo conhecimento sobre a matéria.

O professor argumenta que o aluno que utiliza dessa manobra está abrindo mão da oportunidade de aprender. “Essas conexões neurais são a razão fundamental do estudante frequentar a instituição. O ambiente acadêmico existe para desafiar o raciocínio lógico, criar resiliência intelectual e desenvolver a capacidade de resolver problemas complexos”.

Sendo assim, Roberto considera que a relevância da IA na Educação está em libertar o aluno de tarefas mecânicas organizacionais e de síntese inicial. Do contrário, o uso indevido dessas ferramentas desestimula o desenvolvimento do espírito crítico, base no pensamento científico.

“A função da IA é ser um ponto de partida, um guia inicial que deve ser incessantemente confrontado com fontes primárias e autorizadas”, diz.

Preocupação na educação básica

O pedagogo e docente do Centro Universitário UniFACTHUS, Bruno Pires, vê com bons olhos o uso de IA na Educação como ferramenta de pesquisa, desde que alunos e professores a utilizam com consciência e equilíbrio. Mas como docente também fora do ensino superior, ele tem uma especial preocupação com as consequências da inteligência artificial na educação básica.

“São crianças e adolescentes em processo de construção de identidade, como novos seres culturais. Nessa etapa é crucial o desenvolvimento da imaginação, criatividade e raciocínio crítico. Se essas ferramentas forem utilizadas excessivamente, ou mesmo de maneira indiscriminada, como já estamos verificando, esses estudantes podem deixar de exercitar suas próprias capacidades e se tornarem dependentes dessas tecnologias”.

O especialista acredita que caso não haja um bom direcionamento da IA na educação básica, haverá consequências no futuro. Por isso ele defende uma maior reflexão pedagógica, para que o professor possa desenvolver essas habilidades nos estudantes, fazendo com que eles percebam que pensar com autonomia é muito importante para o próprio desenvolvimento deles.

“As novas tecnologias podem ser aliadas, mas jamais devem substituir o processo de construção ativa para o desenvolvimento integral dos estudantes. Então seu uso precisar ser mediado e dosado pelo professor”. (Texto: Bruno Corrêa – Assessoria de Comunicação Ecossistema BRAS Educacional)

4 implicações do consumo de ultraprocessados na rotina de estudos

4 implicações do consumo de ultraprocessados na rotina de estudos

Consumo de alimentos industrializados têm prejuízos que vão além da saúde física, e afetam rendimento acadêmico

O consumo excessivo de alimentos ultracalóricos tem deixado médicos, nutricionistas e pesquisadores em alerta, dado aos prejuízos já comprovados de uma dieta hipercalórica na saúde física. Mas o que recentemente começou a ser revelado pelas pesquisas são os efeitos dessa dieta também nas áreas neurológica e mental, com implicações no consumo de ultraprocessados na rotina de estudos.

A questão não é exatamente simples. Os alimentos manipulados industrialmente, com excesso em açúcar, sal, gorduras e elementos químicos e sintéticos como corantes e conservantes afeta diretamente nosso cérebro. Assim, há implicações no consumo de ultraprocessados na rotina de estudos em todas as faixas etárias. Só que os mecanismos por trás disso ainda não são bem esclarecidos.

Falar sobre a ingestão de alimentos saudáveis como frutas e verduras, grãos, castanhas, azeite de oliva, ovos e muitos outros e associar esse consumo a melhores rendimentos de alunos é comum, mas abordar os prejuízos do consumo de ultraprocessados na rotina de estudo ainda é raro, e desconhecido por muitos.

A desconexão entre as fontes do alimento e quem os consome, a rotina cada vez mais acelerada e a perda do hábito de cozinhar vem turbinando os ultraprocessados na mesa dos brasileiros. De acordo com um estudo da USP de 2022, esses alimentos – ricos em calorias e pobres em questões nutricionais – já compõem uma média de 30% da ingestão diária de calorias o Brasil.

A nutricionista e coordenadora do curso de Nutrição da UniBRAS Rio Verde, Daiane Costa dos Santos, explica que os riscos do consumo de ultraprocessados na saúde cognitiva e mental são diversos, mas os mais percebidos estão relacionados a memória, atenção e aprendizado, isso devido a inflamações e estresse oxidativo no cérebro.

“Esses alimentos causam uma inflamação sistêmica, um estresse oxidativo que afeta negativamente o cérebro. Há uma prevalência de dificuldade de memória e aprendizado, especialmente em crianças e idosos. Já temos dados que demonstram isso, com evidência científica”.

A especialista argumenta que esse tipo de prejuízo é fortemente perceptível em crianças com Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), e também em pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Ela também diz que os prejuízos na saúde mental são desencadeados pela alta concentração de ácidos simples, gorduras trans, açúcar e aditivos, que estão relacionados a sintomas ansiosos e depressivos.

“Um outro fator está ligado a alteração na microbiota intestinal. Já se sabe que grande parte da produção de serotonina está no instestino. Quando se consome muito ultraprocessados, essa microbiota é alterada, o que pode afetar a produção desse neurotransmissor e causar prejuízos diretos no humor e no bem-estar mental”, explica.

Cientes de que manter uma rotina de estudos equilibrada é essencial para o melhor rendimento acadêmico, deixamos abaixo 4 consequências do consumo de ultraprocessados na rotina de estudos.

1. Prejudica o desempenho cognitivo

Um dos traços cognitivos mais importante para um estudante é ter boa memória. E é exatamente nesse ponto que os ultraprocessados podem afetar mais os estudos. Em uma grande pesquisa com mais de 30 mil pessoas desenvolvida pela universidade de Harvard e divulgados pela revista Neurology em 2024, constatou-se que o consumo de ultraprocessados tinha efeito direto no comprometimento cognitivo dos participantes.

Acompanhando pessoas dos mais variados perfis demográficos por 11 anos, os pesquisadores verificaram que um aumento de 10% na ingestão de ultraprocessados acrescentava em até 16% o risco de comprometimento cognitivo, especialmente a memória. Um outro estudo de 2022 coordenado pela USP e outras cinco universidades brasileiras mostrava resultados semelhantes.

Na pesquisa brasileira, pessoas que consumiam mais de 20% do total energético diário em alimentos ultraprocessados tinham mais riscos de sofrer declínio cognitivo acentuado. O estudo acompanhou 11 mil pessoas em seis capitais brasileiras entre 2008 e 2017.

2. Favorece o desenvolvimento de insônia crônica

Ainda não se sabe bem como, mas o consumo de alimentos ultraprocessados está relacionado ao desenvolvimento de insônia crônica. Foi o que mostrou um estudo em parceria entre as universidades de Sorbonne, na França, e de Columbia, nos EUA. Reunindo mais de 38 mil franceses, o estudo relacionou o maior consumo de alimentos ultracalóricos a maior ocorrência de doenças do sono.

Um outro estudo da universidade sueca de Uppsala e coordenado pelo pesquisador brasileiro Luiz Brandão, já indicava que o consumo desses alimentos estava por trás de dificuldades em atingir um sono reparador.

Considerando o papel de uma boa higiene do sono para um bom rendimento escolar, é fácil entender o impacto do consumo de ultraprocessados na rotina de estudos.

3. É prejudicial à saúde mental

Sem uma boa saúde mental não há projeto acadêmico que se mantenha de pé, e a dieta rica em industrializados também não ajuda nesse ponto. De acordo com um estudo da USP divulgado em fevereiro desse ano, o alto consumo desses alimentos na dieta favorece em até 58% a incidência de depressão resistente, isto é, casos em que a o paciente não reage de maneira satisfatória aos fármacos tradicionais.

Para além da ausência de nutrientes importantes para o bom funcionamento do corpo, como fibras, vitaminas e antioxidantes, os colorantes, conservantes, espessantes e outros produtos sintéticos presentes nos ultraprocessados estariam relacionados a processos inflamatórios, favorecendo a depressão.

Um estudo publicado na revista Nutrients em 2023 relacionava esses alimentos a 44% de risco maior em depressão – com diferentes tipos de gravidade, 48% maiores chances de sintomas de ansiedade, além de maior incidência em casos de demência.

4. Eleva as flutuações do açúcar no sangue

A concentração é um fator chave a quem deseja se debruçar sobre os livros, e de novo os industrializados não ajudam. Isso porque uma dieta sem o devido equilíbrio de calorias e nutrientes eleva a incidência das flutuações no nível de glicose na corrente sanguínea, o que afeta diretamente a capacidade cognitiva.

Essas flutuações podem ser mais simples, com pequenos incômodos na capacidade de concentração, ou podem ser mais complexas, provocando hipoglicemia ou hiperglicemia – baixo e alto nível de açúcar no sangue, respectivamente.

Dessa forma, fica evidente as consequências do alto consumo de ultraprocessados na rotina de estudos, já que essas condições induzem a sintomas como fraqueza, sonolência, confusão mental ou mesmo perda de consciência. (Texto: Bruno Corrêa – Assessoria de Comunicação Ecossistema BRAS Educacional)

5 fatos sobre o TDAH que talvez você não saiba

5 fatos sobre o TDAH que talvez você não saiba

Mais que apenas dificuldades de concentração, transtorno afeta pessoas em vários aspectos da vida pessoal, incluindo a aprendizagem

Se você está com dificuldade em manter uma rotina de estudos, se vê facilmente distraído e se esforça para ter concentração, isso não necessariamente significa que você tenha Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, mas vale se atentar aos sinais. É que por trás de uma onda de autodiagnósticos baseadas em informações duvidosas nas redes, há muitos fatos sobre o TDAH que passam despercebidos.

Com uma alta incidencia genética, prejuízos em vários aspectos da vida pessoal e características na maioria das vezes perceptíveis na escola, o TDAH tem uma incidência estimada entre 5% a 8% da população mundial, de acordo com a Associação Brasileira do Déficit de Atenção (ABDA). Alguns tem o transtorno mais voltado para a desatenção, outros para o comportamento inquieto e impulsivo, e outros do tipo misto.

Um dos fatos sobre o TDAH é que grande parte da população acredita que o transtorno só atinja crianças, o que não é correto, já que muitos adultos sofrem com a doença. O que acontece é que geralmente esses sintomas são mais perceptíveis em pessoas em idade escolar. Há também pessoas em que o TDAH deixa de se manifestar na fase adulta, enquanto outros só descobrem a condição nessa idade.

Muitos aspectos e fatos sobre o TDAH seguem desconhecidos por grande parte das pessoas, e informações desencontradas e sem fundamentos científicos e profissionais seguem rondando a internet, sendo cada vez mais comum casos de autodiagnósticos e uso absusivo de medicamentos. Também é importante entender que a condição não determina o histórico acadêmico de uma pessoa.

A psicóloga e docente da UniBRAS Montes Belos, Suzy Souza, alerta que embora o transtorno cause inconvenientes reais no processo educacional, ele não deve ser interpretado como uma barreira permanente nos estudos, mas sim como um obstáculo a ser superado com estratégias pedagógicas específicas, acompanhamento com profissional de saúde mental e postura ativa.

“Embora o TDAH apresente desafios reais no processo de ensino-aprendizagem, ele não define o potencial de um estudante. Muitas vezes vemos alunos e pais usando o transtorno como uma forma de isenção de esforço, quando na verdade o desenvolvimento é possivel com o apoio adequado”, aponta a profissional.

Entre os sintomas e fatos sobre o TDAH que a docente afirma como mais comuns estão a dificuldade com atenção e concentração, problemas com organização e

planejamento, impulsividade, baixa auto estima, frustração, memória operacional prejudicada, e em alguns casos hiperatividade.

“O mais importante é cultivar a consciência de que o transtorno exige adaptações, mas não exime responsabilidades. Necessita-se atenção, não superproteção. Quando há diálogo e orientação, o TDAH deixa de ser um limitador e passa a ser apenas uma característica a ser administrada”.

Com a relevância da temática no cenário acadêmico, e também com o objetivo de esclarecer mais sobre o transtorno e combater a desinformação, listamos abaixo 5 fatos sobre o TDAH enfrentados por quem tem a condição que talvez você não saiba.

1. Procrastina como escape das dificuldades de concentração

Um dos fatos sobre o TDAH mais comuns é a dificuldade em levar projetos a frente, sejam profissionais ou pessoais. E não se trata somente de tarefas mais complexas, mas também coisas simples, como terminar de ler um livro já iniciado, por exemplo. Muitas vezes essa procrastinação vem após episódios de profundo entusiasmo com a atividade, seguidos por forte desinteresse.

Para além de uma comum falta de disciplina, essa característica também tem a ver com dificuldades de organização, manutenção do foco, gerenciamento de tempo e adequado controle emocional. A ausência desses traços, chamados de funções executivas, corroem boa parte das metas estabelecidas por esse indivíduo, levando a uma profunda frustração.

As saídas mais simples podem ser estipular metas mais acessíveis e realistas, separar um tempo razoável para cumprir atividades importantes no dia a dia, além de fixar lembretes visuais pelo ambiente doméstico ou laboral.

2. Não gosta de rotina, mas precisa muito dela

Se há um dos fatos sobre o TDAH que parecem mais contraditórios e polêmicos é sua relação com a rotina. Isso porque pessoas com o transtorno têm grandes dificuldades para cumpri-la, alegando tédio ou cansaço com mais frequência. Vale estacar que a impulsividade é um denominador comum para quem tem TDAH, com uma necessidade maior em ter rápidas recompensas ao realizar atividades que exigem maior esforço.

Por outro lado, estabelecer uma rotina equilibrada, com períodos de tempo de trabalho ou estudos adequados, junto a outros períodos reservados a atividades livres é uma das maneiras mais simples para superar os prejuízos do transtorno. Por isso, muitos vivem uma relação cíclica de amor e ódio com a rotina, variando entre o cumprimento e descumprimento de tarefas e tendo graves prejuízos com esse comportamento.

Mas como implementar com sucesso uma rotina se há uma grande resistência a ela? Os especialistas explicam que a melhor maneira de vencer esse círculo vicioso é

entender suas maiores necessidades pessoais, profissionais e acadêmicas, e organizar uma grade realista de horários, com rotina previsível e constante.

Nesse sentido, é importante que o indivíduo alterne horários estabelecidos para trabalhar e estudar, com outros horários de lazer e descanso. A alimentação adequada e atividades físicas são chaves para o sucesso dessas medidas. É importante ainda ter um espaço limpo, silencioso e organizado de estudos – além de sempre dividir as tarefas em etapas menores.

3. Pode se beneficiar de métodos de estudo alternativos

Se estudar de maneira tradicional não gera grandes resultados, pode ser hora de buscar metodologias pedagógicas alternativas. Técnicas como o método pomodoro, em que o estudante intercala períodos curtos de estudo com pausas regulares, ou a técnica Feyman, em que se revisa o conteúdo estudado “ensinando” a outra pessoa costumam funcionar entre pessoas com TDAH.

Outros recursos que auxiliam bastante no processo de foco e memorização são a prática de resumos, o uso de flashcards e lembretes visuais, os mapas mentais e organogramas.

4. Precisa se atentar ao uso de medicamentos

Como qualquer tipo de medicamento psicotrópico, o uso de substâncias para aliviar o sintomas do TDAH podem ter enorme sucesso no tratamento, mas devem sempre ser introduzidos e retirados com cuidado e acompanhamento de um médico. É esse profissional que tem o conhecimento específico sobre as vantagens e ricos desses medicamentos, e pode administrá-los com segurança.

Medicações como o metilfenidato, lisdexanfetamina e o cloridato de atomexina são algumas das substâncias mas receitadas pelos médicos para o TDAH, com diversos nomes comerciais. No entanto, quando utilizados de forma abusiva, podem levar a dependência química e outros efeitos colaterais psicológicos e físicos graves.

A comunidade médica tem notado inclusive um aumento no abuso desses medicamentos, mesmo entre pessoas que não tem o transtorno diagnosticado. Com o avanço da autodiagnosticação e a automedicação, o uso dessas substâncias requer especial atenção por parte da comunidade acadêmica.

5. Só pode ser diagnosticado por um profissional

A internet pode ser uma fonte de alerta e informação importante, mas um dos fatos sobre o TDAH é que simplesmente alguns sintomas como desatenção constante, dificuldade em levar adiante rotinas diárias e impulsividade não são suficientes para diagnosticar o transtorno.

Além desses sintomas poderem estar presentes em outros diagnósticos de transtornos mentais, eles também podem ser resultados de um estilo de vida acelerado, muito atarefado ou do abuso de dispositivos eletrônicos – comportamentos muito comuns hoje em dia. O certo é que só um profissional de saúde mental é capaz de reunir as queixas e dificuldades de um indivíduo e estabelecer um diagnóstico ou não.

Entre os profissionais adequados para fazer essa análise estão psicólogos, psiquiatras e neurologistas. Assim, em caso de suspeita do TDAH, o primeiro passo a seguir é buscar ajuda profissional. (Texto: Bruno Corrêa – Assessoria de Comunicação Ecossistema BRAS Educacional)

Sem celular nas escolas: docentes contam seus pontos de vista

Sem celular nas escolas: docentes contam seus pontos de vista

Nova lei entreou em vigor em fevereiro deste ano, e proíbe o celular na instituições de ensino do nível básico públicas e privadas.

Aprovada recentamente, a Lei 15.100/2025 mudou o dia-a-dia das instituições de ensino em todo o país. Isso porque a legislação restringe o uso de celulares em ambientes escolares nos ensinos fundamental e médio, proibindo seu uso mesmo em momentos em que não há aula, como recreios e intervalos. Amplamente defendida por educadores e muitos responsáveis, a lei teve amplo apoio no Congresso e foi sancionada no dia 19 de fevereiro pelo Executivo.

O objetivo principal da norma é garantir que as escolas tenham sua função de espaço destinado a aprendizagem e sociabilidade resguardados, fazendo com que as crianças e adolescentes não sejam prejudicados no processo educativo. Além disso, também busca-se cooperar no sentindo de evitar os riscos dos vícios de uso de telas e redes sociais nos estudantes.

Recebida com louvor por grande parte da comunidade de docentes e responsáveis, a legislação está em período de adaptação, com os estudantes sendo os mais resistentes a se adequar às novas diretrizes. Mas o que não faltam são relatos de professores sobre a diferença já notada no ambiente escolar, com alunos mais focados e com maior socialização. Mas há quem tenha pontos de discordância sobre a lei.

É importante enteder também que a legislação determina que os regimentos internos das escolas devem traçar determinantes sobre como armazenar os aparelhos, e prever punições a quem desrespeite a regra. També se prevê exceções para estuantes que dependem do aparelho móvil por questão de acessbilidade ou saúde, desde que comprovados por laudo médico.

Um outro ponto importante da legislação diz respeito aos professores, que devem ser orientados e capacitados para inclusão tecnológica no processo educativo, e também para se manterem atentos quanto a eventuais prejuízos dos aparelhos digitais na saúde dos estudantes.

Embora a nova legislação não inclua o ensino superior, o projeto é acompanhado de perto por educadores e especialistas de todos os níveis da Educação, já que pode servir como exemplo de como os aparelhos móveis e a tecnologia como um todo interferem nos projetos pedagógicos e instituições de ensino.

Pensando na relevância dessa paauta para a Educação, conversamos com três docentes do Ecossistema BRAS Educacional para entender seus pontos de vistas sobre a nova lei – alguns inclusive com atuação na Educação Básica.

Foco na intencionalidade pedagógica

Para além do uso do celular, o docente e pedagogo da UniBRAS Digital Rafael Moreira – que também é docente na educação básica – explica que a lei não tem qualquer motivação em retirar a tecnologia das escolas, mas foi pensada justamente na reeducação do seu uso. Isso porque não só toda a sociedade é cada vez mais tecnológica, como a tecnologia, quando bem aplicada, é uma aliada no processo de aprendizagem.

“Hoje o telefone é muito mais que uma ligação, ele pode se transformar numa sala de aula estendida, e também é um recurso que pode ser ampliado para que as coisas aconteçam. Só que é importante entendermos que a lei vai além, e permiteo o uso dos recursos tecnológicos de modo que as coisas fluam o aprendizado e a troca de saberes. O problema é o que a não intencionalidade pedagógica gerou”, argumenta.

Ele explica que a escola em que trabalha está bem equipada com dispositivos tecnológicos com acesso a internet nos laboratórios de informática, e também com outros ambientes de capacidade intelectual sem acesso virtual que compoem satisfatoriamente o ensino desses alunos, como a biblioteca e salas de laboratórios. O uso do celular, quando necessário, é avisado aos pais com antecedência.

Mas como o celular em si não é um vilão, e sim o seu mau uso, Rafael explica que há exceções. Como a própria legislação aponta, há alunos com deficiência que pecisam do celular para aplicativos de inclusão. Além disso, estudantes dos anos mais avançados já tem a autonomia de levar o aparelho móvil para notificar os pais de sua chegada ou chamar um carro por aplicativo como transporte até a escola, desde que os mantenham desligados ao entrar na instituição.

Apesar de apontar que na escola em que atua o celular já era proibido, ele explica que antes os alunos tinham permissão para manuseá-lo nos horários livres, algo que com alei se tornou bem mais restrito. Com a implementação da legislação, o educador entendeu que houve um forte avanço para a comunidade escolar e também a familiar, e que apesar de alguns resistentes, aos pouco as coisas se adaptam.

“A gente entendeu que houve um ganho. Um ganho social, um ganho de diálogo, de interação e descobertas. Um ganho que o aluno entendeu que a escola tem que resgatar suas funções, e que ela também tem a função tecnológica, mas que não no tempo do aluno. As rodas literárias, de conversas, os debates, trabalhos manuais, todos estão sendo retomados e intensificados. E claro, o protragonismo do próprio aluno, no qual ele fala, não copia, não traz um discurso pronto”.

Melhor alternativa possível

O professor do Centro Universitário UniFACTHUS, Roberto Campos, explica que há uma certa unanimidade enre os professores sobre os benefícios da nova lei – algo que segundo ele já é fortemente percebido nas redes de educadores. Segundo o docente, quando o aluno está imerso em notificações, redes sociais ou jogos, o processo de absorção e relexão dos conteúdos lecionados é comprometido.

“A presença constante dos celulares tem contribuído para uma fragmentação da atenção e uma diminuição do engajamento durante as aulas. Essa dispersão interfere diretamente no processo cognitivo, elemento central para o desenvolvimento e a excelência acadêmica, que é o verdadeiro serviço ao qual as escolas se destinam”.

Roberto explica que existe um contraponto de muitos envolvidos no processo educativo argumentando sobre a utilidade no celular no processo de aprendizagem, mas segundo ele isso não deve se derivar num afrouxamento da legislação, como a possibilidade mais branda de deixar os alunos terem um acesso “controlado” aos dispositivos dentro da escola, já que esse monitoramento é muito complicado.

“Para que se aproveite de forma efetiva o potencial pedagógico dos celulares, seu uso precisar ser limitado a momentos restritos e sob orientação direta dos professores. Na prática, a ausência de normas que autorizem a apreensão dos dispositivos acaba impedindo que os educadores possam confiscar os aparelhos, dificultando o controle”, justifica.

Ele também explica que para transformar o smartphone em um recurso educativo, seria fundamental que as escolas adotassem estratégias como a elaboração de regimentos internos claros, a capacitação de professores para manejarem esses recursos, e principalmente a implementação de medidas disciplinares quando necessárias – medidas que não contam com o apoio majoritário dos responsáveis.

“Nessas condições, vejo a lei como uma resposta necessária, porque mesmo o aprelho celular tendo potêncial como ferramenta educativa, a realidade é que sem o devido controle os prejuízos se sobrepõem aos benefícios. A medida visa preservar o ambiente escolar e fomentar o desenvolvimeto integral dos estudantes”.

Foco na devida interpretação

O pedagogo e docente do Centro Universitário UniFACTHUS, Bruno Pereira, concorda que a lei é muito bem-vinda. Para ele, além da medida evitar que o aluno se disperse – o que dificulta tanto a sua aprendizagem quanto o andamento das aulas, também ajuda nos casos de vício em telas, já demonstrado por estudos. No entanto, ele chama a atenção para a interpretação que as instituições de ensino e os gestores escolares estão fazendo, porque o celular também pode ser um aliado nos estudos.

“É fundamental reconhecer que os dispositivos eletrônicos podem ser também uma excelente ferramenta pedagógica. Então na verdade é preciso analisar em quais

momentos utilizá-los, e qual sua intencionalidade. Há atividades em que os celulares enriquecem as aulas, como aplicativos educativos, gravação de vídeos, pesquisas orientadas e mesmo atividades que envolvem música”, argumenta.

Para ele, a chave está em entender quando é positiva a presença dos aparelhos em sala de aula, e quando não é, e não restringí-lo de maneira absoluta. De acordo com o especialista, desde a implementação da lei, muitos têm interepretado a regra de forma rígida e errônea, já que a legislação faz alusão ao uso inadequado dos celulares, e não sua exclusão completa do ambiente escolar.

“Há casos de gestores que estão fazendo uma interpretação equivocada da norma, proibindo completamente o uso dos celulares em sala de aula, inclusive pelos próprios docentes para fins pedagógicos. De acordo com a secretaria de educação aqui da cidade, se algum professor quiser fazer qualquer registro com fotos ou vídeos de suas atividades, ele tem primeiro que pedir autorização para o gestor da escola”.

Para o pedagogo, restringir o uso total dos celulares não é o caminho correto para evolução do uso das ferramentas tecnológicas, e sim a adoção de uma interpretação mais compreensível da norma, em que os celulares sejam devidamente incluídos em sala de aula, desde que tenham uma intencionalidade pedagógica clara. (Texto: Bruno Corrêa – Assessoria de Comunicação Ecossistema BRAS Educacional)

5 anos depois: as consequências da pandemia na Educação

5 anos depois: as consequências da pandemia na Educação

Um olhar específico sobre o conjunto de mudanças que ainda permeiam o ensino mesmo após meia década da emergência sanitária

Era uma quarta-feira comum como todas as outras. Ou ao menos assim parecia. Mas no dia 11 de março de 2020 a Organização Mundial da Saúde declarava a pandemia de COVID-19, e com isso uma série de consequências. O que antes pareciam 15 dias excepcionais se converteram em meses de isolamento social, incluindo as salas de aula. Mas algumas coisas nunca mudaram, e certas consequências da pandemia na educação continuam mesmo após 5 anos, tanto negativas quanto positivas.

Para além da área profissional e de todos os outros aspectos alterados de nossas rotinas, a ideia de uma sala lotada no contexto de uma doença infecciosa transmissível por gotículas aéreas era inimaginável. De imediato, uma das primeiras consequências da pandemia na educação em todo o mundo foi a suspensão das aulas presenciais.

Algumas instituições de ensino, mais bem preparadas, habilitaram o modo de educação à distância de imediato. Outras somente suspenderam as atividades, mas foram obrigadas a retomá-las remotamente, já que os 15 dias se converteram num período muito maior. A partir disso, se iniciou uma corrida para a melhora no ensino remoto de modo antes nunca vista.

Mas as consequências da pandemia na educação foram muito além. Elas passavam pela falta de acesso à equipamentos digitais, à conexão de internet bando larga, as questões financeiras, econômicas e sociais. Muito foi devidamente resolvido na correria, e outros “ganchos” continuaram, com graves prejuízos na aprendizagem.

No entanto não houve só problemas. Historicamente, quando a humanidade passa por grandes desafios, ela dá saltos em desenvolvimento tecnológico e social. E isso aconteceu também na área educacional, com novas metodologias e formas de ensino que continuaram mesmo depois da emergência sanitária.

É com o olhar específico para as consequências da pandemia na educação de forma permanente é que buscamos juntos a docentes e especialistas as realidades, tanto boas como ruins, que ainda permeiam o campo educacional, mesmo após 5 anos desse fato histórico que marcou uma geração.

1. Saúde mental

Dos diversos problemas que vieram em conjunto com a pandemia, a crise de saúde mental foi um dos maiores deles. Desde os primeiros momentos das restrições sanitárias, especialmente da “quarentena”, as primeiras queixas foram relacionadas ao

bem-estar psicológico. As consequências profissionais e financeiras da pandemia também colaboraram fortemente para isso.

Em 2022, a Organização Mundial da Saúde divulgou um relatório em que mostrava o aumento na prevalência de casos de ansiedade e depressão em 25% em todo o mundo. Essa crise de saúde mental foi sentida também de modo especial nas instituições de ensino, que perceberam um aumento do estresse entre estudantes e docentes.

Uma pesquisa feita em parceria da Secretaria de Educação do estado de São Paulo com o Instituto Ayrton Senna, também em 2022, mostrava que 2 em cada 3 estudantes do ensino público do estado apresentavam queixas relacionadas à saúde mental. Uma outra pesquisa da Universidade Federal da Bahia (UFBA) com cerca de 509 alunos da graduação mostrava que 78,6% deles tinham algum desconforto mental.

O pedagogo e docente do Centro Universitário UniFACTHUS, Bruno Pereira, concorda que o isolamento social provocou o aumento de doenças mentais já antes conhecidas pela comunidade escolar, mas não em níveis tão elevados quanto os verificados hoje. Para ele, isso prova o quão importante é a interação social no processo de aprendizagem. Atuante tanto no ensino superior quanto fundamental, ele sente isso em todos os ambientes.

“Há alguns dias uma colega docente de uma turma com alunos em torno dos 5 anos se queixava de percebê-los muito imaturos, e eu destaquei que esses alunos dela são hoje as crianças que nasceram na pandemia. São alunos que passaram entre dois e três anos isolados”, argumenta.

Para reverter esse quadro, as instituições de ensino devem estar atentas aos sinais de estresse e adoecimento tanto entre alunos quanto entro professores, e incluírem a Educação Socioemocional em suas abordagens pedagógicas. É um trabalho longo e difícil de recuperação que não deve ser minimizado ou menosprezado.

2. O ensino à distância

Antes de 2020, havia uma forte aposta pela expansão da educação à distância por parte de muitos especialistas e instituições de ensino, mas nada realmente comparável ao cenário atual. A ideia inicial era a de que, aos poucos, com a expansão da modalidade e o êxito na formação de estudantes e profissionais, nos converteríamos de maneira gradual ao ensino remoto.

Mas a pandemia mudou o cenário de forma abrupta. Se antes era opcional estudar e lecionar remotamente, naquele momento já era “obrigatório”. A desconfiança que muitos tinham da eficácia desse modelo acabou sendo colocada a prova de maneira muito mais abrangente e inesperada, e a expansão do EaD é uma das maiores consequências da pandemia na educação.

Toda essa emergência já era sentida quando o Censo da Educação Superior de 2021 mostrava um crescimento de 474% de cursos universitários à distância na década anterior. Era óbvio, no entanto, associar esses resultados impressionantes com o período imediatamente anterior, já que a pandemia se iniciou em 2020. Mas os índices se sustentaram nos anos seguintes.

Já no Censo da Educação Superior de 2023 – o mais recente divulgado até agora – houve uma retração de 49 mil vagas presenciais no ensino superior brasileiro, ao mesmo tempo que um crescimento de mais de 600 mil remotas. O resultado foi um crescimento de mais de 700% na década anterior. Ainda de acordo com os dados, os cursos de licenciaturas são esmagadoramente remotos, ultrapassando os 80%.

Tal cenário mostra que os estudantes e docentes vêm adotando fortemente a modalidade a distância, seja de forma total ou híbrida, e com isso há novos desafios para o campo educacional, já que ao facilitar o acesso à educação de qualquer ponto com conexão à internet, vencemos distâncias e desafios estruturais e logísticos imensos, num país gigante e desigual.

No entanto é sempre importante entender que uma nova modalidade de ensino também requer outros focos de atenção, como a eficácia dessa formação, a disciplina e colaboração dos alunos, assim como as novas abordagens pedagógicas. Estar em sala de aula é diferente de estar em um ambiente virtual, para todos os envolvidos nesse processo de formação.

Para o professor do Centro Universitário UniFACTHUS, Roberto Campos, a familiarização com ferramentas digitais é um aspecto muito positivo que a pandemia deixou no ensino. “Enriqueceu o processo educativo como um todo. Tanto alunos quanto professores tiveram que desenvolver habilidades digitais tecnológicas que, hoje em dia, ambos dificilmente conseguiriam ficar sem”, explica.

O pedagogo Bruno Pereira também concorda como ponto positivo a adoção de ferramentas digitais antes não amplamente utilizadas, mas para ele as vantagens, com a flexibilização do ensino como ponto destaque entre as consequências da pandemia na Educação. Nesse sentido, também houve o desenvolvimento da autonomia dos alunos no processo de aprendizagem.

“Muitos alunos desenvolveram essa habilidade de maior autonomia na aprendizagem naquela época, e que continua até hoje. Eles tiveram que aprender a gerenciar melhor o seu tempo, naquele momento que o estudo não tinha a supervisão direta do professor”, expõe.

3. Acesso à tecnologia

O ensino à distância não existe sem conexão à internet, e portanto o acesso à tecnologia, conexão e dispositivos digitais está diretamente relacionada à expansão do ensino remoto. Mas isso não era simples no início da pandemia, e logo os problemas surgiram.

No início, o questionamento era por onde as aulas se dariam. Assim, ferramentas como o Google Meet, Zoom, e o Microsoft Teams, que antes tinham caráter ainda experimental para a maioria dos educadores, se tornaram imediatamente fundamentais. Outras ferramentas para auxiliar na dinâmica das aulas também foram incorporadas com rapidez.

“Quando a pandemia começou, eu trabalhava numa pasta da secretaria municipal de educação, na diretoria de ensino aqui da cidade, e foi tudo muito complexo porque nós não achávamos na literatura nada semelhante. Tivemos realmente que reinventar”, diz Bruno.

Além da questão das ferramentas e metodologias a se adotadas, os educadores esbarravam ainda num velho problema do país: a desigualdade no acesso a serviços. Com uma diferença socioeconômica tão acentuada, professores e estudantes com melhores condições financeiras tinham melhores dispositivos tecnológicos e acesso à internet, enquanto os mais pobres agonizavam.

Esse abismo no acesso às tecnologias afetava diretamente o rendimento dos alunos, num país que tem como forte missão garantir o acesso à educação de qualidade para vencer a forte desigualdade de renda. Não garantir esse acesso significaria, automaticamente, retroceder um trabalho de décadas de esforços da educação brasileira.

O cenário desafiador foi muito aliviado pelos esforços conjuntos de professores, alunos, responsáveis e autoridades governamentais para garantir esse acesso. Com o fim da pandemia, muitos também retornaram ao presencial, o que aliviou parte dessa tensão. Mas como a tecnologia na educação pós-pandemia evoluiu para a inclusão de ferramentas digitais de forma irreversível, o acesso à tecnologia se tornou ainda mais relevante no ambiente educacional.

Dados do IBGE mostram que em 2023 92,5% das residências brasileiras tinham acesso à internet banda larga, variando entre fixa e móvel. No entanto enquanto nas áreas urbanas o acesso era de 94,1%, e na área rural era de 81%. Há também algumas diferenças entre as regiões do país, embora sejam pequenas. Mas a desigualdade de acesso entre o campo e a cidade está diminuindo, saindo de 40% em 2016 para 13,3% em 2023.

“Agora é muito importante trabalhar para reduzir as desigualdades de acesso”, explica o professo Roberto Campos. O encontro desse cenário com a incorporação de novas tecnologias de forma permanente, como a chegada da inteligência artificial no ensino, requer também uma reflexão mais aprofundada da comunidade escolar sobre como utilizar melhor esses recursos, de acordo com o especialista.

“Não tenho dúvidas de que a pandemia nos ensinou muito sobre resiliência e adaptação. O desafio agora é encontrar um equilíbrio entre os benefícios das inovações tecnológicas e a importância das interações presenciais”.

Mas o professor Bruno Pereira é um pouco menos otimista. Para ele, ainda há grande desigualdade de acesso a tecnologia, e isso a pandemia deixou marcas profundas na

educação do país, como a desfasagem escolar, em que parte dos alunos não recuperaram os prejuízos dos conteúdos perdidos, e a evasão escolar, já que muitos deles perderam o vínculo com a escola.

“Alguns estudos e as próprias avaliações do Ideb nos mostram que houve sim um retrocesso na aprendizagem, principalmente nas redes de educação que não se preocuparam em ter um plano claro e efetivo de recomposição dessas aprendizagens no pós-pandemia”.

Por outro lado, ainda falando em tecnologia, ele destaca que, por parte dos docentes, um ponto positivo foi a capacitação de professores para o ensino digital. “Até então nós não tínhamos essa capacitação, e com o cenário da pandemia isso mudou”.

4. Sobrecarga aos docentes

Muito se fala sobre a saúde mental dos alunos no pós-pandemia, e a importância da inclusão da Educação Socioemocional no currículo escolar, mas pouco se fala sobre as saúdes mental e física dos docentes. Afinal, os grandes responsáveis pela implementação das mudanças no ambiente de ensino foram eles.

Esse cenário em que os professores tiveram que se adaptar a uma rotina completamente diferente, prestar suporte de maneira árdua e ainda atuar muitas vezes tanto na modalidade presencial quanto remota provocou uma grande sobrecarga sobre os docentes, que é citada tanto pelo professor Roberto quanto o professor Bruno.

Para o professor Bruno, além dos esforços da adaptação ao ensino remoto, muitos professores também arcaram como os custos financeiros dessa nova modalidade de ensino. Já Roberto explica uma combinação de fatores que precarizaram o trabalho do docente na pandemia e que permanecem até hoje.

“Já testemunhei vários casos de sobrecarga docente. Os professores têm lidado com dupla jornada de trabalho, combinando presencial e virtual, e uma forte pressão por resultados e demandas por atualização constante em tecnologia. Isso tem levado a casos de síndrome de burnout e crises de ansiedade”, destaca.

Esse panorama apresentado pelos professores coincide com os números apresentados por diversos estudos sobre o tema. Em uma pesquisa de 2023 realizada pelo Ipec e feita com docentes brasileiros, cerca de 71% deles se diziam estressados. Um outro estudo da Unifesp mostra que cerca de 1 a cada 3 professores tem queixas e sintomas de esgotamento.

Para especialistas, o caminho para uma melhora no cenário da qualidade laboral e de vida como um todo dos docentes passa pela conscientização do problema por parte da instituições de ensino. Nesse sentido, é preciso reconhecer a existência do problema, conhecer as queixas dos professores, dar um suporte maior aos profissionais e entender que a saúde mental no campo educacional envolve a todos, e não somente os alunos.

Mas os professores também conquistaram algo muito bom. Para Bruno Pereira, na pandemia se iniciou algo que se manteve até hoje: a valorização do protagonismo do professor no cenário escolar. “As famílias e as comunidades puderam perceber o quão impactante é a função de um professor na vida de um aluno. Os pais perceberam isso, e eu acho que começou aí um movimento de valorização docente importante”. (Texto: Bruno Corrêa – Assessoria de Comunicação Ecossistema BRAS Educacional)

5 fatos históricos retratados em “Ainda Estou Aqui”, de Walter Salles

5 fatos históricos retratados em “Ainda Estou Aqui”, de Walter Salles

Longa protagonizado por Fernanda Torres e Fernanda Montenegro é importante retrato familiar e nacional dos difíceis anos da ditadura militar

“Nós vamos sorrir sim. Sorriam!”, diz Eunice Paiva, interpretada por Fernanda Torres,  juntos a seus cinco filhos, para a matéria de um veículo de imprensa. A matéria  abordava as circuntâncias do desaparecimento de seu marido, Rubens Paiva, engenheiro, ex-deputado e ativista político da resistência à ditadura militar que governou o Brasil entre 1964 e 1985.

Dirigido por Walter Salles, o filme “Ainda Estou Aqui” é o retrato mais fidedigno da rotina da família do ativista após seu desaparecimento. Com foco na família unida e feliz, de classe média alta e moradores da zona sul carioca, o longa retrata, por meio de um  recorte, o drama vivido pela família de desaparecidos políticos e sua luta por esclarecimento e verdade.

Amigo e frequentador da casa dos Paiva na infância, Walter Salles se nutriu das memórias que tinha da família e do livro “Ainda Estou aqui”, de Marcelo Rubens Paiva,  filho do ex-deputado, para contar como Eunice Paiva se converteu numa matriarca forte e irrefreável para criar seu filhos e lutar pelo esclarecimento da morte do marido, apesar do trauma familiar.

Com Fernanda Torres, Fernanda Montenegro e Selton Mello no elenco principal, o filme  brilha por retratar um outro lado da Ditadura Militar, com as consequências na rotina cotidiana, entre temas afetivos e financeiras, vividas pelas famílias de desaparecidos do regime autoritário.

Se convertendo também em um dos longas de maior bilheteria da história do cinema brasileiro, tanto dentro quanto fora do Brasil, “Ainda Estou Aqui” evoca a memória, verdade e justiça num país que tem um capítulo trágico em sua história recente, e que também tem por padrão o esquecimento e a anistia em situações complexas.

Com uma campanha internacional que conquistou elogios, admiração, sucesso e prêmios inéditos no audiovisual brasileiro, “Ainda Estou Aqui” trouxe para casa a primeira estatueta da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, Oscar, pelo prêmio de melhor filme de língua não-inglesa, assim como outras duas indicações – melhor atriz para Fernanda Torres e a inédita indicação de melhor filme.

O filme também é um precioso registro da nossa história como país, e tem um  profundo legado na formação educacional de estudantes brasileiros. O pedagogo e docente da UniBRAS Digital, Rafael Moreira, destaca nosso dever em não fugir da questão da Ditadura Militar, isso como cidadãos e também como educadores, sendo imprescindível uma abordagem correta das instituições de ensino sobre o tema.

“A instituição de ensino deve abordar, de uma forma aberta, a realidade do regime autoritário, ecoando os  aspectos sociais e políticos da época, e trazendo à tona o que realmete foi a ditadura. Não é vender uma outra versão, ou abordar como um momento que já vencemos. É um tema forte, que não se pode fugir como se fosse somente algo do passado”, aponta.

Para o especialista, as instituições de ensino precisam se atentar que filmes como  esse, que trazem um recorte histórico e crítico, não podem apenas serem sucesso  comercial, mas sim complemento de um passado duro e doloroso. “A ditadura trouxe consequências vitalícias, as memórias não se apagam. O passado não foi apagado. Ele é presente, é real, dolorido, e ainda move vidas e famílias na atualidade”.

Pensando no enorme sucesso e importancia de obras dessa magnitude para o audiovisual brasileiro, a memória coletiva e a Educação e formação pedagógica trazidas pelo filme, elencamos 5 fatos históricos retratados em “Ainda Estou Aqui”.

  1. O “boom” da música brasileira nas décadas de 1960/1970

    A campanha de divulgação de “Ainda Estou Aqui” foi embalada pela canção “É preciso dar um jeito, meu amigo”, de Erasmo Carlos. Escrita em 1971, ano do desaparecimento de Rubens Paiva, a música fala sobre a repressão política em que vivia o país e a necessidade de resistência. Mas quase todas as canções da trilha sonora do filme exploram a música brasileira de uma perspectiva temporal e nacionalista.

    Quando a filha mais velha, Veroca (Valentina Herszage), passeia de carro com o namorado e amigos por um Rio de Janeiro idílico, se ouve “Jimmy, Renda-se”, de Tom Zé. Já na reuniãode família e amigos, Rubens (Selton Mello) coloca Juca Chaves com “Take Me Back to Piauí” para tocar, e avisa que a filha, que vai se mudar para o exterior em breve, já vai escutar muita música “gringa” nos próximos tempos.

    Outro momento de destaque é quando os agentes repressivos reviram as coisas de Rubens em sua casa, e se deparam com vários discos de artistas brasileiros considerados “subversivos” pelo regime ditatorial, incluindo Caetano Veloso.

    Todos esses detalhes importatíssimos do filme marcam um dualidade triste do Brasil nos chamados “anos de chumbo”. O país vivia um verdadeiro florescer cultural enquanto os agentes repressivos perseguiam politicamente e sufocavam artistas, inclusive por meio de censura direta.

    Já com forte destaque internacional com a bossa nova no final dos anos 1950, o Brasil era sacudido pela tropicália desde os anos1960, que trazia consigo na música, cinema, teatro e toda a cena artística como um todo uma forte valorização da identidade nacional. Nesse período, o país continuou a exportar excelência cultural e atrair fãs e admiradores em todo o mundo, inclusive influenciando fortemente artistas estrangeiros. 

    2. O Rio de Janeiro era mais “seguro”

    A casa dos Paiva de frente para a praia, na Rua Delfim Moreira, número 80, no Leblon, não tinha muros altos ou cerca elétrica, algo inimaginável para qualquer morador da capital fluminense nos dias de hoje. É que naquele tempo, mesmo apesar da já forte desigualdade social e racial, o Rio de Janeiro não apresentava índices de criminalidade tão elevados como os de hoje.

    O filme retrata uma rotina familiar tranquila, com o mar como protagonista. Nas ruas, o pequeno Marcelo Rubens – autor do livro que deu origem ao filme – jogava futebol na rua com os vizinhos. Esse cenário calmo, conhecido de perto pelo diretor Walter salles, que era amigo da família, proprociona a quem assiste o filme um cenário de paz e  conforto familiar, tragicamente interropido pela prisão de Rubens.

    A inabilidade dos governos federal, estadual e municipal em conter o crescimento do tráfico de drogas rapigonou a realidade carioca para pior. A partir da década de 1970 surgem os primeiros pontos de tráfico de entorpecentes do Rio de Janeiro à Europa, se alimentando das fronteiras sem fiscalização de um país gigante como o Brasil, por onde começaram a circular as drogas e as armas.

    No início da década de 1980 o tráfico já era uma realidade comum na capital, com o maiores agrupamentos altamente armados e conflitos entre facçõe rivais. Com a população pobre e negra isolada nos morros por vários anos de limpeza étnica e higienismo social promovidos pela elite da cidade por meio de seus planejamentos urbanísticos alheios a realidade social, a segurança se desmanchou.

    Também inclui nesse fato a constante negligência sobre o tráfico e a violência urbana crescente por parte dos administradores públicos, inclusive nos 21 anos da ditadura militar, e o crescimento da desiguldade de renda estimulada pelas políticas econômicas questionáveis desses governos militares.  

    3. A inflação era uma realidade cotidiana

      Como uma mulher influente ainda antes da morte do marido, Eunice Paiva (Fernanda Torres) busca em suas economias um valor suficiente pra que sua filha se estabeleça em sua nova residência no Reino Unido. Mas um fato curioso é que as reservas da matriarca já estavam em libras esterlinas, e guardadas na própria residência.

      Fato inimaginável hoje, economizar em moeda estrangeira era a realidade das famílias brasileiras para ter suas reservas resguardadas no contexto de uma inflação elevada. Antes do estabelecimento do plano real, em 1994, o Brasil viveu períodos de forte incerteza monetária, e economizar em moeda local era altamente arriscado, já que os preços mudavam com frequência.

      Na época do filme, a moeda do país era o cruzeiro, que seria utilizado até 1986, quando foi substituído pelo cruzado. No período, a inflação anual rondava os 30%, bem diferente dos aproximados 5% de hoje. No final da década de 1970, os ciclos de expansão monetária empreendidos pelos governos militares, associados a crise do petróleo, levaram o país à hiperinflação.

      Durante as décadas de 1980 e início de 1990, a inflação anual no Brasil ultrapassou os três e depois os quatro dígitos, chegando a quase 5000% em junho de 1994, antes da implementação do real no mês seguinte. Esse golpe inflacionário derrubou o poder de compra das famílias, aumentou a pobreza e a fome, e foi um dos motivos da queda da ditadura militar.

      Nesse cenário inóspito, ter reservas em dólares e libras era essencial para chegar ao final do mês, lembrando que o euro ainda não exisitia nessa época.

      4. A imprensa se dividiu em meio às pressões políticas

      Sem internet, as notícias circulavam mais lentamente, e a dependência dos meios de comunicação hegemônicos era muito forte. Em muitos momentos do filme a imprensa é vista como parceira do regime, com a personagem Eunice citando durante uma entrevista a existência de uma “rede de notícias falsas” que davam suporte ao governo autoritário.

      A verdade é que a maioria esmagadora dos grandes grupos de comunicação do país apoiaram o golpe de 1964, e conservaram uma linha editorial simpática ao regime. A justificativa seria os riscos de uma “invasão vermelha”, em que supostamente grupos de guerrilheiros marxistas tomariam o poder.

      Mas é claro que nem todos os profissionais da imprensa concordaram. Por isso, muitos veículos opositores ao governo vigente foram perseguidos, censurados e obrigados a fecharem suas portas. Era comum também ver notícias censuradas nos jornais, com  receitas de bolo no lugar das matérias.

      Um dos nomes mais lembrandos na perseguição política à jornalistas é Vladimir Herzog, na época diretor de telejornalismo TV Cultura, e professor na escola de comunicação da USP. Em 1975, o jornalista foi preso, torturado e morto depois de se apresentar voluntariamente para prestar esclarecimentos sobre sua ligação com a resistência.

      Essa realidade fragmentada na imprensa é percebida em vários momentos do filme, como quando Eunice questiona seus colegas se não se poderia denunciar o desaparimento do marido nos jornais, recebendo uma negativa, já que os veículos estavam sendo censurados, e que o melhor caminho seria buscar jornais americanos ou franceses para fazer a denúncia.

      5. Os torturadores não foram punidos

      Ao contrário de países vizinhos que passaram por regimes ditatoriais parceiros dos militares brasileiros, como a Argentina, o Chile e o Uruguai, nenhum militar e torturador brasileiro foi punido. Isso porque em 1979 entrou em vigor a Lei da Anistia, instrumento encontrado pelo militares brasileiros, setores sindicais e membros da sociedade civil para trazer um ponto final à situação delicada do país.

      Assinada pelo presidente de fato, João Figueiredo, a lei prevê anistia a todos os crimes políticos cometidos entre 2 de agosto de 196  e 15 de agosto de 1979. Nisso, todos os  torturadores e agenes de crimes antidemocráticos cometidos pelas forças militares não puderam ser punidos.

      A lei não passou despercebida pelos militantes dos direitos humanos, que entenderam a  legislação como uma garantia de impunidade para os criminosos. No entanto, ela teve ampla aceitação popular, já que diversos nichos da sociedade brasileira viam, na época, sua aprovação como uma garantia necessária para o longo caminho da redemocratização do país.

      No fim dos anos 2000, a vizinha a Argentina – que já havia punidos militares de alta patente nos anos 1980 – teve suas leis de anistia revistas e derrubadas pela Suprema Corte do país, abrindo brecha para que mais de mil agentes  da repressão fossem então julgados e condenados, alguns com prisão perpétua. Isso estimulou autoridades brasileiras a buscaram uma revisão da Lei da Anistia brasileira, sem sucesso.

      Enquanto várias entidades, entre elas a OAB, viam a lei como insconstitucional, já que anistiar crimes de tortura e assinatos seria contrário a vários tratados internacionais assinados pelo Brasil, outros se queixavam que retornar ao assunto só levaria a mais  “revanchismo”, e que a lei era uma das bases da nova democracia brasileira. Em 2010, o Superior Tribunal Federal decidiu que a lei não deveria ser revista.

      Para trazer mais esclarecimentos sobre os crimes cometidos durante o período, em 2011 foi instituída a Comissão Nacional da Verdade (CNV), colegiado composto por sete membros auxiliados por vários pesquisadores e historiadores. O objetivo era apurar todas violações de direitos humanos e terrorismo de estado promovidos entre 1946 e 1988.

      O colegiado produziu então um documento com lista contendo ao todo 434 nomes de mortos e desaparecidos vítimas de terrorismo de Estado. Muitos deles não tinham sequer envolvimento com a luta armada, outros nem mesmo participavam da resistência. Foi também a partir da comissão que se pôde esclarecer a morte do ex-deputado Rubens Paiva.

      De acordo com as investigações, Rubens Paiva foi preso e torturado, e morreu entre os dias 20 e 22 de janeiro de 1971, no Destacamento de Operações e Informações (DOI) do I Exército, na Tijuca, zona norte do Rio de Janeiro. Na ocasião do esclarecimento, 5 militares foram responsabilizados pela sua morte. Nenhum deles foi jugado, e três já faleceram. O corpo do ativista e ex-deputado jamas foi enconrrado.

      Atualmente, vários ativistas, juízes e entidades seguem defedendo a revogação da Lei da Anistia. Em dezembro de 2024, o ministro do STF Flávio Dino decidiu que a ocultação de cadáveres não faz parte dos crimes anistiados pela lei, por considerar que sem o esclarecimento, o crime continua em consumação. O entendimento defendido pelo ministro foi emitido em decisão sobre os restos mortais dos integrantes da Guerrilha do Araguaia.

      Em fevereiro de 2025, a atual presidente do Superior Tribunal Militar, Maria Elizabeth Rocha, defendeu a revogação da Lei da Anistia. Enquanto a lei seguir em vigência, os torturadores seguem impunes, com suas patentes militares e recebendo aposentadorias e benefícios. Outros já são falecidos sem a devida responsabilização, muitas vezes com familiares ainda recebendo tais benefícios financeiros. (Texto: Bruno  Corrêa – jornalista da Assessoria de Comunicação do Ecossistema BRAS Educacional)

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