Com cerca de 358 mil docentes no ensino superior brasileiro, mais da metade deles são homens
Entre os estudantes, as mulheres dominam! Essa não é exatamente uma surpresa para quem já tem intimidade com os dados demográficos do país, já que elas são maioria dos alunos desde a década de 90. Já entre os professores, a história é outra. Com 52,98% de professores do gênero masculino, eles são maioria quando se explora o perfil da docência superior.
A surpresa fica ainda maior quando comparados os dados da educação básica, em que 79,2% dos professores são mulheres. Essa é só uma das peculiaridades do perfil da docência superior no Brasil apresentados pelo Censo da Educação Superior de 2021, o número mais atualizado até agora.
Outra grande surpresa é que, no período entre 2011 e 2021, o número de docentes praticamente não cresceu. Em 2021, eles eram cerca de 358 mil, pouco mais de 1,4 mil que há dez anos atrás. No entanto, houve um pico de contratações em 2016, quando havia cerca de 388 mil docentes. Isso significa que, em 5 anos, o país perdeu mais de 30 mil professores só no ensino superior. Quando se reflete sobre os desafios da educação brasileira, não é difícil imaginar o tamanho desse prejuízo.
É interessante frisar que os dados de 2021 ainda estão muito sujeitos às instabilidades trazidas pela crise sanitária do coronavírus. Num momento em que o país passou por ondas da doença que obrigaram muitas instituições a fecharem suas salas e seguirem para o modelo virtual de ensino, e que nem todas elas tinham esse aparato.
Por outro lado, a pandemia também acelerou o crescimento da modalidade de ensino a distância. Em 2021, as matrículas em cursos de graduação EaD já abarcavam cerca de 41,4% das matrículas nessas instituições. Nos graus acadêmicos de Licenciatura e Tecnólogos, os cursos à distância já são maioria, com 61% e 77,5%, respectivamente.
Aprofundando ainda mais no perfil da docência superior, também há dados sobre a formação desses profissionais. Cerca de 69,4% tem doutorado, 22% mestrado e 8,6% especialização.
Apoio institucional como ferramenta
A docente do curso de Psicologia da Faculdade UniBRAS Santa Inês, Raniele Gomes, conta que, como uma mulher liderando uma sala de aula, é preciso ter uma postura diferenciada. “Nunca fui desrespeitada pelos meus colegas professores, mas em sala de aula é preciso demonstrar autoridade. É necessário ser aberta aos alunos e alunas, para que se possa ter uma troca de saberes, tirar dúvidas, mas ao mesmo tempo ter uma postura que deixe claro que sou a professora”, diz.
Ela explica que, nesse processo de construção de espaço, muitas professoras ficam em uma linha tênue entre estarem sendo próximas aos alunos e ao mesmo tempo não darem liberdade além da devida. “Na medida que se conquista seu espaço, e se traz uma postura de respeito, demonstra conhecimento na matéria, aí sim os alunos veem com outros olhos”.
Mas ela conta que, ainda assim, às vezes há situações de constrangimento. Isso é ainda mais forte para as novas docentes, que acabam sendo muito “testadas” pelos alunos. “É preciso ter um cuidado para que não se passe a imagem errada, tendo uma postura de respeito”.
Nesse ambiente desigual, ela vê como fundamental o apoio da instituição. “A questão da desigualdade é tão estrutural, que muitas mulheres podem não terem sido ouvidas dentro da docência. É algo que merece atenção da gestão, com foco na igualdade”, argumenta.